BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – Com sua megalomania, impulsividade e imprevisibilidade, Donald Trump deu a Lula tudo o que ele precisava para recuperar apoio político e popularidade: um inimigo externo e um discurso.
Um discurso catalisador, resumido no slogan que o Planalto produziu, mas terceirizou para seus militantes e aliados massificarem nas redes sociais: “Lula quer taxar os super ricos, Bolsonaro taxa o Brasil”.
É assim que Lula tenta sair das cordas, unindo a perigosa, mas eficaz, bandeira do “pobres contra ricos” com o sempre conveniente nacionalismo, que costuma quebrar o maior galho para governantes sob pressão.
O venezuelano Hugo Chávez era craque nisso, mas é apenas um pequeno exemplo no meio da multidão que usava e usa esse recurso quando a política interna esquenta e as pesquisas trazem más notícias.
Presidente dos EUA mirou no governo petista, no STF e nos Brics, mas errou o alvo e acertou Bolsonaro.
Se Lula recorre à “soberania”, o bolsonarismo tenta, a duras penas, e sem bons resultados até agora, usar a “democracia”.
A diferença, porém, é abissal. A agressão do império às instituições, à democracia e à economia – e, portanto, à soberania nacional– é real, palpável.
Já a alegação de Trump de que há censura, ameaça à livre expressão e “caça às bruxas” no Brasil é tão mentirosa quanto a própria “carta” de Trump para anunciar tarifas de 50% a todos os produtos brasileiros.
No texto, ele justificou o tarifaço com “esses déficits comerciais insustentáveis” que o Brasil causaria aos EUA, mas é o oposto! O Brasil teve um déficit de US$ 400 bilhões com os EUA em quinze anos, e oito dos dez produtos americanos exportados para o Brasil chegam aqui com… tarifa zero.
Além de mentirosa, malcriada, grosseira e cheia de erros, a carta foi divulgada antes de chegar ao destinatário — o presidente do Brasil. É algo impensável entre pessoas comuns, imagine-se entre chefes de Estado? O Itamaraty reagiu à altura: devolveu a carta.
Por Eliane Cantanhêde – Estadão