Cientista político Magno Karl. Aumento de preços tira votos de Lula.

BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – A avaliação do governo Lula permanece em terreno estável, mas cristalizada pela polarização política que molda a opinião pública no Brasil, de acordo com a mais recente pesquisa Genial/Quaest, divulgada nesta semana, que ouviu eleitores em todo o país.

O levantamento mostra que a aprovação do presidente não registra variações significativas, mas está fortemente condicionada ao posicionamento político do eleitor. Entre os que se identificam com a esquerda, a avaliação tende a ser positiva; já entre conservadores e eleitores que votaram em Jair Bolsonaro, predomina a visão negativa .

Para o cientista político Magno Karl, diretor-executivo do Livres, esse fenômeno é mais identitário do que objetivo: “Não se trata apenas de julgar resultados ou políticas públicas. A percepção sobre Lula está profundamente associada a um pertencimento político. Quem já o apoiava, tende a defendê-lo, enquanto opositores enxergam falhas, independentemente dos dados”, afirma.

Embora a polarização explique a estabilidade dos números, a economia segue como eixo central das preocupações da população.

Preocupação 

A pesquisa indica crescimento da percepção de que o país está parado ou piorando. Questões como a inflação de alimentos, a dificuldade em conseguir emprego e a perda do poder de compra aparecem como as maiores queixas .

Karl avalia que esse conjunto de fatores pode se tornar o ponto de inflexão do governo.“A inflação de alimentos, em especial, tem impacto imediato no cotidiano. É o tipo de variável que independe de grandes narrativas políticas, porque o cidadão percebe na feira e no supermercado. Isso pressiona a popularidade de qualquer governo.”

O estudo também captou a repercussão da carta enviada por Donald Trump ao presidente Lula, anunciando tarifas de 50% sobre produtos brasileiros exportados aos Estados Unidos. O episódio trouxe as relações internacionais para o centro do debate público, com reflexos imediatos sobre o bolso dos brasileiros.

De acordo com a pesquisa, parte expressiva do eleitorado acredita que as tarifas podem encarecer alimentos e prejudicar a vida das famílias . Ainda assim, a forma como cada eleitor interpreta a legitimidade da medida e a capacidade de Lula em negociar com os EUA varia conforme sua identificação política.

“O episódio exemplifica como até temas de política externa, que em tese seriam mais técnicos, são reinterpretados pela lente da polarização. Para lulistas, trata-se de um desafio diplomático que o governo pode superar; para bolsonaristas, é mais um sinal de fragilidade do presidente”, observa Karl.

E Bolsonaro?

Outro ponto destacado pela pesquisa é a comparação direta entre Lula e Jair Bolsonaro. Entre apoiadores de Lula, prevalece a percepção de que o atual governo é melhor. Já entre bolsonaristas, a avaliação é inversa, apontando para retrocessos em relação ao período anterior .

“A polarização deixou de ser apenas uma disputa eleitoral e passou a ser uma lente permanente. Hoje, a avaliação do governo é menos um reflexo dos resultados objetivos e mais um espelho da identidade política de cada eleitor.”

Com a economia pressionando a percepção popular e a política internacional adicionando novas tensões, o governo Lula enfrenta o desafio de falar para além de sua base. A pesquisa mostra que, até o momento, as opiniões estão cristalizadas.

“O maior risco para o governo é a economia continuar sendo vista como estagnada. Isso abre espaço para narrativas de insatisfação e reforça divisões já existentes. A disputa de 2026, na prática, já está sendo moldada agora”, conclui Karl.

(informações da Assessoria de Imprensa)

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