Prenderam Monteiro Lobato. O crime dele: ter dito que o Brasil tinha petróleo, e que o mesmo deveria ser explorado por brasileiros. Ele chegou a publicar, nos idos de 1936, o livro “O Escândalo do Petróleo”. Pouco tempo depois um famoso movimento nacionalista lançou a divisa “O petróleo é nosso”.

Fiquei a meditar sobre este tumultuado período de nossa história ao ler, recentemente, que apenas o denominado “Pré-Sal” brasileiro tem potencial para suprir todo o consumo mundial ao longo de cinco anos – só ele!

Enquanto isso divulgou-se, há algum tempo, a informação de que mais da metade dos campos de petróleo conhecidos do planeta já ultrapassaram seus picos de produção, tendendo a entrar em declínio. Falou-se até que esta redução atingiu, em 2016, a impressionante marca de 64%.

Só para que se tenha uma ideia do tamanho do problema, o governo da Rússia – um dos grandes produtores mundiais – anunciou, recentemente, que as reservas nacionais apresentam um forte declínio ao longo da década de 2020, com previsão de esgotamento para 2044.

- Publicidade -

Não surpreende, assim, estudo publicado em 2018 por um jornal do Irã – um dos maiores produtores mundiais – segundo o qual a próxima grande recessão econômica a ser enfrentada pela humanidade deverá ter como elemento central precisamente o petróleo.

Para complicar ainda mais o quadro anunciou-se na Rússia que, a despeito de tantos movimentos em prol do uso de novas fontes de energia menos poluentes, o petróleo deverá continuar sendo a mais popular delas ao longo dos próximos 30 anos.

Por falar em ecologia, a única grande novidade em termos de produção de petróleo, qual seja a extração através de fraturamento hidráulico, com potencial de levar os EUA a um novo patamar nesta área, tem sido objeto de pesados ataques. Cheguei a ler um estudo segundo o qual esta técnica estaria ligada a produtos causadores de câncer e elevação dos riscos de leucemia em crianças.

Por conta disso tudo não é de se estranhar o título de recente matéria publicada no exterior: “O suprimento global de petróleo é mais frágil do que você pensa”. E nem o de uma outra: “Corrida pelo Ouro Negro: o Brasil posicionado para uma explosão do petróleo”.

Agora levante-se. Vá ao cemitério contemplar a tumba de Monteiro Lobato. Ore por ele – deve estar se revirando nela.

Pedro Valls Feu Rosa é jornalista, escritor e desembargador no Espírito Santo;  colabora regularmente com a AGÊNCIA CONGRESSO.


- Publicidade -