Levantamento publicado como parte da iniciativa Quem Paga A Banda, analisa 16 mil anúncios da Biblioteca de Anúncios da Meta e mostra indícios de fraude em mais da metade deles, além de cravar que 9% são de fato golpes. Geralmente os anúncios direcionam o usuário para conversas via WhatsApp, onde o golpe se concretiza.

SÃO PAULO – AGENCIA CONGRESSO  — Estudo inédito revela como o ecossistema da Meta (Facebook, Instagram e WhatsApp) tem se tornado terreno fértil para golpes que atingem milhões de brasileiros, em especial famílias de baixa renda e beneficiários de programas sociais como o Bolsa Família e o BPC (Benefício de Prestação Continuada).

A pesquisa, batizada de Fraude, Ia E Dinheiro Falso: Como a Meta lucra bilhões com golpes e exploração de famílias carentes no Brasil e conduzida pelo Projeto Brief — plataforma com a missão de fortalecer a comunicação progressista no Brasil —, mostra que a empresa lucra com anúncios fraudulentos que exploram a vulnerabilidade digital e financeira da população.

O relatório completo será divulgado hoje, integrando a iniciativa Quem Paga a Banda, que se refere a investigações sobre o financiamento de campanhas, narrativas e redes de influência, desta vez com foco no impacto político e social dos golpes digitais disparados sobre famílias carentes no Brasil.

A investigação analisou 16 mil anúncios ativos na Biblioteca de Anúncios da Meta em setembro deste ano.

Desses, 52% apresentaram indícios de golpe, enquanto 9% foram confirmados como fraudulentos pelo Projeto Brief.

A maioria se concentrava em anúncios de empréstimos e créditos consignados, direcionados a pessoas como aposentados do INSS, trabalhadores CLT e beneficiários do Bolsa Família.

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De forma geral, o levantamento mostra que os golpes não são apenas tolerados pelas plataformas, mas estruturados dentro de um modelo de negócios que se alimenta da vulnerabilidade das pessoas. A Meta lucra com o clique, mesmo quando o clique leva ao golpe.

A pesquisa Febraban/Datafolha (2024) estima que 56 milhões de brasileiros, ou o equivalente a 33,4% da população adulta, foram vítimas de fraudes digitais no último ano, tendo sofrido prejuízos superiores a R$ 40 bilhões (R$ 28,8 bilhões em golpes de PIX e boletos falsos e R$ 13 bilhões em compras não entregues).
De acordo com o estudo, os golpes mais comuns utilizam deepfakes, ou seja, imagens geradas por inteligência artificial e páginas falsas com informações incompletas ou inexistentes.

Muitos deles mantêm o logotipo de grandes bancos digitais, como o C6 Bank, em segundo plano. O perfil dos anunciantes apresenta baixo número de seguidores e endereços de destino não verificados, o que demonstra a facilidade com que esse tipo de conteúdo é veiculado nas plataformas.

As campanhas fraudulentas exploram narrativas emocionais e promessas de crédito facilitado, com mensagens como “empréstimos com garantia de veículo” ou “parcelas em até 36x”, apelando ao desespero de quem busca equilibrar as contas.

Geralmente, segundo a apuração da pesquisa, os anúncios direcionam o usuário para conversas via WhatsApp, onde o golpe se concretiza.
O estudo também busca enfatizar a visão no lucro, não só a facilidade do golpe, mostrando que, quando uma plataforma permite que milhares de anúncios suspeitos continuem ativos, mesmo após denúncias, ela se torna parte do problema. Ao pesquisar o termo “Bolsa Família”, o estudo identificou que grande parte dos anúncios fraudulentos utilizava o nome do programa para atrair vítimas, prometendo benefícios extras, cartões de crédito ou antecipações inexistentes para os beneficiários dele. O objetivo é claramente atingir pessoas com baixa literacia digital, que confiam nas marcas conhecidas e acreditam que o comunicado é oficial.
A análise tem nível de confiança de 95% e margem de erro de 5%, e foi estruturada com base em métodos qualitativos e quantitativos, mapeando padrões de comportamento, perfis anunciantes e links de redirecionamento suspeitos. O relatório também levanta uma questão urgente: sem uma regulamentação que imponha deveres de diligência às plataformas — como já ocorre na União Europeia com o Digital Services Act (DSA) —, as Big Techs continuarão atuando como cúmplices e beneficiárias de um ecossistema de fraudes que coloca em risco a economia e a segurança digital dos brasileiros mais vulneráveis.

Sobre o Projeto Brief

O Projeto Brief é uma iniciativa que visa compartilhar inteligência em comunicação para aprimorar narrativas, mapear e antecipar estratégias de comunicação, monitorar investimentos em mídia paga e democratizar o acesso a pesquisas avançadas em comunicação e psicologia social.

Fonte: Agência Lema

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