Há algum tempo li, no respeitado jornal inglês “The Guardian”, um artigo do colunista Owen Jones que deveria ser objeto de ampla reflexão pelo aparato institucional da humanidade. Seu título, em tradução livre: “Os jovens estão abandonando a democracia e aderindo à ditadura. Eu posso entender o desespero deles”.
Transcrevo, a seguir, alguns trechos: “A fé na democracia está inquestionavelmente em declínio. Um novo estudo constatou que 20% dos ingleses até 45 anos acreditam que o melhor sistema para bem administrar um país é aquele que tem um líder forte que não precisa se preocupar com eleições”.
Um quadro exclusivamente inglês? Não: “Um estudo realizado por pesquisadores de Cambridge em 2020 examinou as convicções em 160 países e concluiu que as gerações mais jovens estão desiludidas com a democracia. E, conforme o “Pew Research Center”, quase dois terços dos cidadãos de países ricos estavam insatisfeitos com a democracia em 2024, contra apenas a metade em 2017”.
Segue, então, uma pergunta e sua clara resposta: “O que está acontecendo? Um modelo econômico que entrega estagnação e insegurança tem muito a ver com isso. O estudo de Cambridge concluiu que a exclusão econômica era o maior motivo de descontentamento entre os jovens”.
Uma constatação: “A democracia tem sido pesadamente amesquinhada por interesses corporativos e plutocratas que desfrutam de muito maior poder que o eleitor médio”. E uma advertência: “A menos que respostas convincentes sejam apresentadas diante desta crise, ela poderá ser fatal”.
Palavras alarmistas? Não. Há alguns anos li dois preocupantes relatórios do Conselho Nacional de Inteligência dos EUA, enumerando cenários para as décadas que virão e expondo um grave alerta: “A nível dos países o abismo entre as expectativas da população e o desempenho dos governos crescerá – e o próprio sistema democrático estará sob risco”.
Mais: vasta parcela da juventude tem menos propensão a apoiar a liberdade de expressão e a própria democracia que seus pais. Previu-se, em resumo, um futuro no mínimo cinzento para liberdades duramente conquistadas.