BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – A cultura hip hop tem se consolidado como um importante instrumento de resistência e transformação social nas periferias do Brasil — e no Distrito Federal, não é diferente.
Atenta a esse potencial, a Secretaria de Justiça e Cidadania do Distrito Federal (Sejus-DF), por meio da Subsecretaria de Enfrentamento às Drogas (Subed), aposta na “Batalha de Rimas Contra as Drogas” e na oficina de grafite como estratégias criativas e eficazes de prevenção.
Ambas as ações passaram a integrar, de forma permanente, as edições do programa GDF Mais Perto do Cidadão, aproximando os jovens da arte e do debate sobre temas relevantes como o uso de drogas e a violência.
A grande inovação do projeto da Sejus é exatamente essa: dar protagonismo aos jovens, permitindo que eles contem a sua própria história.
Nos duelos de rima, eles não apenas competem, mas também refletem sobre suas realidades, se provocam em versos e discutem temas como desigualdade, identidade, superação e resistência.
A linguagem da periferia se transforma, então, em uma poderosa ferramenta de educação e empoderamento.
Para a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani, valorizar a cultura periférica é essencial para garantir que adolescentes e jovens se sintam representados e ouvidos.
“Nosso objetivo é justamente criar um ambiente de escuta e diálogo, onde os jovens possam se expressar sem medo de julgamento e, ao mesmo tempo, se conscientizar sobre as consequências do uso de drogas e das suas escolhas”, afirma.
Pedro Nogueira da Cruz, o MC Pedrinho, de apenas 12 anos, vencedor da batalha no Arapoanga, exaltou a importância da iniciativa.
“O movimento foi muito marginalizado, mas agora estamos provando o contrário. O hip hop é sobre união e resgate, não sobre violência. É muito bonito ver essa galera reunida por uma causa boa. Quando imaginei um garoto como eu, tímido, agora falando e sendo ouvido”, comentou.
Batalha de Rima Contra as Drogas
Henrique Souza da Silva, de 20 anos, vencedor da batalha na Vila Buritizinho, em Sobradinho II, destacou o poder da cultura hip hop para promover mudanças reais. “As pessoas pensam que o rap é só zoeira, mas ele vai muito além disso. Rimar exige inteligência, estudo e, mais do que tudo, uma reflexão sobre a vida. Esses projetos salvam vidas, porque nos dão uma nova perspectiva”, contou o jovem, que tem um histórico de superação relacionado ao uso de drogas em sua família.
As batalhas já passaram por Planaltina, Arapoanga, Brazlândia e Sobradinho II. Nessas cidades, os quatro melhores MCs de cada etapa estão sendo classificados para um grande evento de encerramento previsto para o fim do ano, que deve reunir 80 MCs e cerca de 200 jovens participantes ao longo de dois dias de atividades. A ideia é promover um festival que não apenas celebre a arte da rima, mas também consolide o projeto como uma vitrine de novos talentos.
A cada edição, cerca de 10 a 12 jovens se apresentam em duelos divididos em três rounds de 45 segundos cada. Um dos MCs atua como mestre de cerimônias, conduzindo o evento dentro do limite de uma hora de programação. Além das batalhas, a iniciativa promove rodas de conversa com os MCs, abordando temas como autoestima, escolhas e o enfrentamento às drogas. A organização também busca parcerias com empresas, para garantir premiações e incentivos aos vencedores. Em algumas ocasiões, a própria equipe gestora contribui financeiramente para apoiar os participantes.
Há ainda um cuidado com o conteúdo apresentado: são feitas orientações para evitar linguagem inapropriada ou conotações político-partidárias, considerando o público diverso do GDF+. A proposta central é oferecer um espaço de pertencimento e valorização, onde jovens — muitos deles historicamente marginalizados — possam se ver representados e reconhecidos.
Grafite: mais uma forma de expressão e inclusão
Complementando a Batalha de Rima, a Sejus também promove uma oficina de grafite com o artista Gilmar Satão. O objetivo foi engajar os jovens na arte urbana como forma legítima de expressão e pertencimento. Durante os encontros, os participantes aprenderam técnicas de grafite e desenvolveram mensagens de resistência ao consumo de drogas.
“O grafite, assim como a rima, é uma ferramenta poderosa para mostrar que existem outros caminhos”, afirmou Satão. “A arte muda a mentalidade. Aqui, estamos ajudando a transformar o espaço público e, mais importante, estamos ajudando a transformar vidas”.
Foto: Roberto Peixoto, Ascom/Sejus
Pedro Nogueira da Cruz, o MC Pedrinho 12 anos

Henrique Souza da Silva, de 20 anos, vencedor da batalha na Vila Buritizinho, em Sobradinho II
Henrique Souza da Silva, de 20 anos, vencedor da batalha na Vila Buritizinho, em Sobradinho II