BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que os ataques golpistas de 8 de janeiro decorreram da “revolta dos ricos que perderam as eleições”.

”O que aconteceu no Palácio do Planalto, na Suprema Corte e no Congresso foi uma revolta dos ricos que perderam as eleições”, enfatizou.

“Não podemos brincar, porque um dia o povo pobre pode se cansar de ser pobre e resolver fazer as coisas mudarem neste país. Eu ganhei as eleições exatamente para fazer as mudanças que não eram feitas. Se nós conseguirmos decepcionar esse povo, e o povo passar a desacreditar de nós, fico pensando o que será deste país.”

Também conforme o chefe do Executivo, “este país não pode continuar sendo governado para uma pequena parcela da sociedade, mas para a grande maioria do povo brasileiro”.

As declarações de Lula reforçam o clima do “nós contra eles” e destoam de outras falas do presidente, que pregam a pacificação do país.

A advogada constitucionalista Vera Chemin — mestre em direito público administrativo pela Fundação Getulio Vargas (FGV) — afirmou que Lula “parece mais interessado em recrudescer a divisão de classes”, além de tentar angariar maior popularidade, especialmente junto às classes menos favorecidas.

“Afirmar que o evento de 8 de janeiro foi uma revolta dos ricos que perderam as eleições é subestimar a inteligência do eleitorado, além de aumentar ainda mais os conflitos de natureza ideológica”, disse.

Rodrigo Prando, cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, observou que o início do mandato de Lula foi marcado por momentos conturbados e que os comentários servem como aceno a sua base eleitoral. Porém, analisou que o presidente deveria seguir com a agenda de governabilidade.

“A gente começa um governo que ainda, de certa maneira, é pautado por um ex-presidente. Dá para entender esse sentimento do presidente Lula, mas não justifica”, frisou. “Na perspectiva de um político experiente, ele deveria descer do palanque e preocupar-se com uma agenda pró-ativa na busca da governabilidade e de questões que pudessem pacificar o país, inclusive como ele de fato disse.”

Na opinião de Prando, “essa forma de ele tratar as ações do dia 8 como ‘a elite que perdeu a eleição’ é uma hipersimplificação”. “Da perspectiva política, da pacificação, a fala do Lula contribui muito pouco. Ele está sendo contraditório com as suas ações e os seus discursos”, pontuou.

Pressões

Paulo Baía, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), afirmou que, embora o presidente esteja na missão de pacificar o país e terminar com o clima de animosidade, tem enfrentando pressões.

“O 8 de janeiro, sobretudo esse dia, é uma declaração de guerra contra o governo. Organizada, orquestrada, com centralidade de ordem, com distribuição de tarefas, com infiltrados no governo do Distrito Federal. Portanto, Lula não pode dar declaração diferente da que deu”, enfatizou.

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“Lula terá de ser contundente. Se não, ele não governa. Pedem de Lula, o tempo todo, paz e tranquilidade, e o tempo todo provocam.”

(Com CB)

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