TEXTO RENATO PAOLIELLO
BRASÍLIA – AGENCIA CONGRESSO –“ Depois que a Justiça eleitoral aboliu a exigência da filiação dos Institutos de pesquisas a ABEP – Associação Brasileira de Empresa de Pesquisa – para registro no TSE, o mercado perdeu credibilidade e assistimos hoje um verdadeiro ataque a democracia com pesquisas manipuladas e sem critérios científicos”
Este é o resumo crítico do cientista político capixaba, Fernando Pignaton, gestor do Instituto FlexConsult, filiado a ABEP, que criou o Índice Brasil, certificadora dos Institutos, com padronização das classes sociais. A B C D E, uma linguagem cientifica internacional.
No Espírito Santo, além da FlexConsult de Pignaton, só mais dois institutos são filiados a ABEP, o Instituto Futura Pesquisa e Consultoria e a Enquet Pesquisa e Gestão de Negócios.
Existem dezenas de “empresas”, sem base cientifica, que elaboram pesquisa tendenciosas à pedido do cliente, apenas para serem publicadas em sites e jornais tendenciosos. São os fakes.
FUTURA
“Em comparação com outros estados, o índice de acerto no Espírito Santo é de mais de 90%”, garante o veterano José Luiz Orrico, fundador do Instituto Futura, que acompanh as disputas eleitorais no ES desde o a década de 90.
Para ele, após a pandemia, as pesquisas não são mais exclusivamente presenciais, um fato inovador e comprovadamente relevante nos resultados.
Já para o próximo pleito de 2026, a Futura avalia, que no momento, mesmo com a provável entrada do ex-governador Paulo Hartung, na disputa eleitoral do ano que vem, isso não motiva o eleitor.
“O debate popular ainda é Lula e Bolsonaro, a polarização é tendência cravada pelas pesquisas”, acredita.
ORIGEM
Os radialistas Auricélio Penteado e Arnaldo da Rocha, em 1945, proprietários da rádio Kosmos, em São Paulo, criaram o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística, o famoso Ibope, para mensurar a audiência da emissora.
A empresa foi a pioneira no país e ganhou projeção internacional em pesquisa eleitoral. Com acertos históricos e “muita bola na trave” também.
O Ibope pariu no Espírito Santo o primeiro Instituto de Pesquisa. A Enquet Pesquisa e Gestão de Negócio surgiu exatamente há 40 anos, fruto de uma fusão do Ibope, sob a gestão do capixaba César Herkenhoff, que passou para a professora Rita Abreu.

Ela revelou que “no início a Enquet chegou a acertar as casas decimais da quantitativas realizadas para Rede Tribuna de Comunicação e em toda sua história sempre acertou as tendências”.
As pesquisas eleitorais são ferramentas estatísticas, que buscam auxiliar o eleitor na escolha de decisão. Mas são apenas retrato do momento que são realizadas e que no final de uma eleição pode ser influenciada por diversos fatores.
Como disse um experiente pesquisador capixaba, “pesquisa não é urna”.
Toda regra tem exceções, principalmente quando o conhecimento acadêmico é negligenciado e deixa entrar o peso do dinheiro e dos interesses de grupos brigando pelo poder com artilharia pesada.
CUSTOS
“O preço de uma pesquisa depende do cliente”, revelou um pesquisador autônomo, sem registro na ABEP. Ou seja, tem pesquisa de todo preço, variando a quantitativa de R$ 5 mil a 20 mil.
Fernando Pignaton explicou, com mais firmeza, que a tabela nacional da ABEP é a base para os institutos.
Na pesquisa quantitativa cada formulário custa R$ 300, ou seja, mil entrevistas, sai por R$ 300 mil reais. Tratam-se de preços médicos do mercado em nível nacional
A qualitativa de grupo de 10 pessoas, custa R$ 1 mil por pessoa, ou seja, em Vitória são recomendados 7 grupos, com total de R$ 70 mil.
Desqualificar as pesquisas é sempre a tática de quem não lidera. José Luiz Orrico lembra, que em 1994, a disputada eleição pelo governo do Espírito Santo, o candidato Cabo Camata, no 2º turno liderava as pesquisas contra Vitor Buaiz, do PT.
A Futura foi única a apontar a Vitória de Vitor. “Antes do pleito, cabo Camata chegou no nosso escritório com a famosa vara de gurugumba batendo forte na mesa e prometendo uma surra na gente. Assustador”, lembrou Orrico, em gargalhadas.
Rita Abreu há mais de 30 anos fornece pesquisas eleitorais para Rede Tribuna de Comunicação. ‘Acertamos todas’, lembra. Hoje a rede passa por dificudades financeiras e não contrata mais pesquisas.
Rita não revela valores. Alega que o custo de uma pesquisa eleitoral pode variar significativamente dependendo de diversos fatores, entre eles, a credibilidade do instituto e a abrangência geográfica com maior número de entrevistados.
Fernando Pignaton começou a fazer pesquisa em 1992, com o sociólogo Jaime Doxey, no departamento de ciências políticas da Ufes.
“Um instituto de pesquisa é igual a uma universidade, tem toda uma estrutura, segue critérios éticos e morais”, disse.
Pignaton, que também é médico, sempre atuou no cenário nacional com as grandes entidades, participando da criação do índice Brasil, que normatizou com conceito científico as pesquisas de mercado.
“Acertamos na disputa da prefeitura de Vitória em 2012, entre Luciano Rezende e Luiz Paulo Veloso”.
Realmente, durante o anúncio do resultado no TRE, a militância de Luciano, fez uma fogueira com centenas de exemplares do Jornal A Gazeta, que trazia a liderança de Luiz Paulo, fato conhecido na mídia capixaba.
Para Fernando Pignaton, a metodologia de campo das pesquisas exige conhecimento do pesquisador, ”mesmo com algumas mudanças na última década, hoje, podemos colher opinião via telefone e na internet. O cidadão mudou com o home office”.
A pandemia deu uma acelerada na transformação estrutural nos hábitos dos cidadãos no Brasil e no mundo. A comunicação não é só presencial.
Mas a maior preocupação do cientista político “são os Institutos não filiados a ABEP, que não estão enquadrados nas normas de qualidade internacional, criando uma distorção do processo eleitoral, atacando a segurança de uma eleição e a confiança da democracia. Devemos só divulgar a pesquisas cientificas com credenciais da ABEP”, concluí.
Fernando Pignaton defende que o TSE deve voltar exigir a filiação na ABEP dos institutos.
(Edição Marcos Rosetti)